Teatro D. Maria prepara "protocolo de tolerância zero à discriminação"

O Teatro Nacional D. Maria II (TNDM) está a preparar um "protocolo de tolerância zero a qualquer discriminação", disse hoje à agência Lusa o seu diretor artístico, Pedro Penim.

Teatro Nacional D. Maria II

© Wikimedia Commons

Lusa
12/06/2025 18:25 ‧ ontem por Lusa

Cultura

Teatro

O ator e encenador, que assumiu a direção artística do D. Maria em 2021, acrescentou tratar-se de um documento que se encontra "a ser discutido há algum tempo" e que pretende "prevenir qualquer discriminação que possa ter um caráter xenófobo ou racista, misógino ou que possa ser ofensivo a qualquer grupo".

 

O que se pretende é "dar sinal de que no Teatro Nacional não estamos dispostos a tolerar ofensas verbais ou outros insultos ou atitudes que possam ser ofensivas (...), disruptivas e possam perigar a continuidade do espetáculo e a integridade dos intérpretes e obviamente também a sua liberdade artística", frisou.

Este protocolo destina-se a ter em conta "situações de preservação social ou de protestos em contexto de espetáculos de teatro", disse, acrescentando que em alguns espetáculos do TNDM tem havido "aspetos críticos, não só na proteção do público, mas também, sobretudo, dos próprios artistas".

Segundo Pedro Penim, o TNDM tem registado algumas "interrupções de leituras em lançamentos de livros e alguns episódios com reações mais extremas", nomeadamente em "espetáculos para escolas" onde "há todo um conteúdo mais ideológico e mais polarizado que tem perturbado, algumas vezes, o bom funcionamento do espetáculo e a sua continuidade".

Por isso, entre as medidas pensadas no protocolo está a criação de zonas de segurança para artistas, mas também, sempre que possível, a realização de conversas prévias, antes dos espetáculos, "que possam apaziguar aquilo que possa ser uma reação mais extemporânea".

Manifestando-se preocupado e revoltado com a agressão, na terça-feira, ao ator Adérito Lopes, de A Barraca, por um elemento de um grupo de cerca de 30 manifestos neonazis, Pedro Penim lamentou ainda o facto de, "na nossa Assembleia [da República], se sentir em alguma representação política um aval para alguns desses comportamentos".

Por isso, o incidente junto ao Cinearte prova que os agentes da cultura estão, "nalguns casos, em situações desprotegidas".

Para Pedro Penim, o documento de segurança será "um protocolo defensivo, mas também dissuasor", que possa "criar dentro das equipas artísticas e técnicas alguma sensação de segurança para garantir que o espetáculo corra como foi concebido e previsto".

Na terça-feira, Dia de Portugal, um ator da companhia de teatro A Barraca, Adérito Lopes, foi agredido por um grupo de extrema-direita, em Lisboa, quando entrava para o espetáculo com entrada livre "Amor é fogo que arde sem se ver", de homenagem a Camões.

Em declarações à agência Lusa, a diretora da companhia, a atriz e encenadora Maria do Céu Guerra, contou que a agressão ocorreu cerca das 20:00, quando os atores estavam a chegar ao Cinearte, no Largo de Santos e, junto à porta, se cruzaram com "um grupo de neonazis com cartazes, programas", com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.

"Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara", relatou Maria do Céu Guerra.

Hoje, a ministra da istração Interna manifestou "repúdio absoluto" pelo ataque à companhia de teatro, considerando-o "um ato inaceitável", e reforçou o compromisso do Governo com a segurança, remetendo a punição deste crime para os tribunais.

Numa declaração à saída do Mosteiro dos Jerónimos, onde decorreu a cerimónia do 40.º aniversário da adesão de Portugal às Comunidades Europeias, Maria Lúcia Amaral destacou três pontos sobre esta agressão por um grupo de extrema-direita.

"Em primeiro lugar, o que aconteceu ontem [na terça-feira], as suas conotações, os seus fundamentos, a sua natureza, releva de um ato absolutamente inaceitável num país como Portugal. Primeiro ponto, algo que não pode ter outro objeto que não o repúdio absoluto", disse.

Em segundo lugar, a ministra disse que o compromisso do Governo "é prevenir, evitar e tudo fazer para que este tipo de atos, quando cometidos, quando não evitáveis, possam ser devidamente sancionados, através de policiamento de proximidade que garanta a segurança e a integridade das pessoas e bens".

"Terceiro e último ponto, quando se cometem crimes, como foi o que aconteceu, num país como Portugal, que é um Estado de direito, cabe à Justiça, aos Tribunais, de acordo com as leis, devidamente perseguir, devidamente castigar os criminosos", afirmou.

Na quarta-feira, o Ministério Público confirmou à agência Lusa a abertura de um inquérito para investigar a agressão contra o ator Adérito Lopes, da companhia de teatro A Barraca, na terça-feira.

Leia Também: Hugo Soares condena ataque neonazi e considera absurdo não o repudiar

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